23 de junho de 2016

Livro | Por Lugares Incríveis (All The Bright Places)



Era uma vez um menino deslocado, solitário, esquisito... Era uma vez uma menina perdida, vazia, sem vida... Era uma vez duas vidas que buscavam a morte. Eu descreveria assim os personagens principais de “Por Lugares Incríveis” no início da história. Desculpem pela minha descrição tão melancólica, mas acho que as sinopses dos sites não dão a carga que esse livro tem. Tanto que quando comecei esse livro não imaginava que se tornaria um dos meus preferidos. Parecia tão somente mais um romance leve e descontraído, embora já começasse tratando de um assunto mais pesado.

O livro é muito parecido com “Eleanor & Park”: a narração é em primeira pessoa e se reveza entra a visão de Finch e Violet. Isso é essencial nessa história, porque nós, leitores, precisamos entender o que acontece dentro de cada um deles. Esse recurso preenche o enredo com uma carga emocional gigante, que te atinge como um soco na boca do estômago. Os problemas familiares de diversos níveis também são retratados nesse livro. De uma forma geral, colocaria “Por Lugares Incríveis” bem ao lado de “Eleanor & Park”, mas com mais lágrimas.

Finch e Violet se conhecem na torre do colégio, ambos pensando sobre a morte... sobre suas próprias mortes. Violet era uma menina popular, feliz, com um namorado descolado, até sofrer um acidente de carro em que sua irmã mais velha morre. Ela, que era uma escritora muito habilidosa, para de escrever e desenvolve uma fobia a carros. Finch é excêntrico, cada dia aparece com um novo estilo, uma nova personalidade. Ele faz tudo o que quer o tempo todo. Mas guarda para si longos períodos de depressão em que desaparece do mundo. Após o primeiro encontro, se tornam parceiros de um projeto de Geografia, no qual devem percorrer o estado onde moram para conhecer seus pontos turísticos. Nessas “andanças”, eles se tornam importantes um para o outro de diversas formas.

Quando troca o capítulo fica muito claro que o narrador é outro, porque Finch tem um pensamento muito fluído e depressivo, mas que por isso mesmo, busca sempre o melhor em tudo. Já Violet é sempre muito pessimista e confusa, como se não soubesse quem é. Mas outro ponto muito bom dessa narrativa é que os personagens vão evoluindo. O leitor vai acompanhando a mudança: a depressão de Finch se intensificando e a força de Violet crescendo.

Quando falo dos livros que li, eu sempre evito dar spoilers ou falar mais do que o necessário para tentar cativar alguém a ler o livro. Mas com “Por Lugares Incríveis” não vou conseguir fazer isso. Eu comecei o livro em um dia e terminei no outro, mas não tive a sensação de ter interrompido a leitura, não me lembro das vezes que parei, porque continuava pensando na história. E quando acabei, tudo que eu queria era chorar por horas (como li o livro na rua, tive que segurar muito o choro, quase sufocando de tanto que engolia aquelas bolas de lágrimas). Até agora, enquanto escrevo sobre ele, é muito difícil respirar, porque as bolas de lágrimas voltam a minha garganta. Tudo isso pra dizer que, se você não quer ter spoilers sobre a história, é melhor parar por aqui, porque eu realmente preciso falar mais sobre essa história. Você foi avisado. 

A PARTIR DAQUI VOCÊ TERÁ POSSÍVEIS SPOILERS!

“Por Lugares Incríveis” te dá aquela sensação de que algo ruim vai acontecer a qualquer momento, mas que no fim tudo vai terminar bem. Eu tinha isso em mente, que no fim tudo terminaria bem... E quando as coisas começam a dar terrivelmente errado, eu fico ansiosa, mas ainda acredito que tudo vai dar certo. E então, quando acontece... Eu fiquei imóvel, paralisada, como a própria Violet fica. Eu ainda li as próximas páginas esperando que algo muito louco acontecesse e mudasse tudo. Mas não acontece. Os capítulos seguintes são muito emocionais (não emocionantes, emocionais mesmo). O leitor é carregado por toda aquela carga de emoções que Violet passa enquanto visita os últimos pontos do mapa. Cada encontro com o que ainda é Theodore Finch. Cada descoberta de que ele esteve ali é mágica de uma forma que não consigo explicar.

Escrever sobre suicídio e doenças mentais não deve ser fácil. Nem é fácil ler sobre eles. Por mais que tentemos entender o que Finch sentia, nada fazia sentido, nem mesmo para ele. Cada vez que ele “testava” uma nova forma de morrer, sentíamos com ele toda a angustia, dor, paz, o medo, tudo que aquilo o trazia. A morte vista pelo olhar do outro, daquele que vive, é ainda pior, porque o que fica é o vazio, a perda. Não temos a visão final de Finch, como é sempre que alguém se vai. Mesmo sabendo como Finch se sentia até certo ponto, o fato da autora não ter dado os últimos momentos dele é que fez tudo tão real. Não podemos saber o que aquelas pessoas pensavam, as milhões de hipóteses que podem explicar o que aconteceu sem nunca serem comprovadas. E a evolução da perda e da dor, os caminhos que Violet segue em busca do que restou é muito tocante. É definitivamente um livro para nos fazer pensar.

FIM DOS SPOILERS.

“Tenho raízes mas sou fluída. Venha, digo, venha.” (Por Lugares Incríveis citando Virgínia Wolf)

“Tudo bem não termos recolhido lembranças nem tido tempo de organizar tudo de um jeito que fizesse sentido pra outra pessoa. O que percebo agora é que o que importa não é o que a gente leva, mas o que a gente deixa.” (Por Lugares Incríveis)

Acho que é bem claro que recomendo esse livro. Mas esteja preparado para todas as emoções que você vai sentir.

Se você já leu “Por Lugares Incríveis”, deixe sua opinião nos comentários. Me diga se você também se sentiu como eu quando leu.









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