O livro é muito parecido com “Eleanor & Park”: a
narração é em primeira pessoa e se reveza entra a visão de Finch e Violet. Isso
é essencial nessa história, porque nós, leitores, precisamos entender o que
acontece dentro de cada um deles. Esse recurso preenche o enredo com uma carga
emocional gigante, que te atinge como um soco na boca do estômago. Os problemas
familiares de diversos níveis também são retratados nesse livro. De uma forma
geral, colocaria “Por Lugares Incríveis” bem ao lado de “Eleanor & Park”,
mas com mais lágrimas.
Finch e Violet se conhecem na torre do colégio, ambos
pensando sobre a morte... sobre suas próprias mortes. Violet era uma menina
popular, feliz, com um namorado descolado, até sofrer um acidente de carro em que
sua irmã mais velha morre. Ela, que era uma escritora muito habilidosa, para de
escrever e desenvolve uma fobia a carros. Finch é excêntrico, cada dia aparece
com um novo estilo, uma nova personalidade. Ele faz tudo o que quer o tempo
todo. Mas guarda para si longos períodos de depressão em que
desaparece do mundo. Após o primeiro encontro, se tornam parceiros de um
projeto de Geografia, no qual devem percorrer o estado onde moram para conhecer
seus pontos turísticos. Nessas “andanças”, eles se tornam importantes um para o
outro de diversas formas.
Quando troca o capítulo fica muito claro que o narrador é
outro, porque Finch tem um pensamento muito fluído e depressivo, mas que por
isso mesmo, busca sempre o melhor em tudo. Já Violet é sempre muito pessimista
e confusa, como se não soubesse quem é. Mas outro ponto muito bom dessa narrativa é que os
personagens vão evoluindo. O leitor vai acompanhando a mudança: a depressão de
Finch se intensificando e a força de Violet crescendo.
Quando falo dos livros que li, eu sempre evito dar spoilers
ou falar mais do que o necessário para tentar cativar alguém a ler o livro. Mas
com “Por Lugares Incríveis” não vou conseguir fazer isso. Eu comecei o livro em
um dia e terminei no outro, mas não tive a sensação de ter interrompido a
leitura, não me lembro das vezes que parei, porque continuava pensando na
história. E quando acabei, tudo que eu queria era chorar por horas (como li o
livro na rua, tive que segurar muito o choro, quase sufocando de tanto que
engolia aquelas bolas de lágrimas). Até agora, enquanto escrevo sobre ele, é
muito difícil respirar, porque as bolas de lágrimas voltam a minha garganta.
Tudo isso pra dizer que, se você não quer ter spoilers sobre a história, é
melhor parar por aqui, porque eu realmente preciso falar mais sobre essa
história. Você foi avisado.
A PARTIR DAQUI VOCÊ TERÁ POSSÍVEIS SPOILERS!
“Por Lugares Incríveis” te dá aquela sensação de que algo
ruim vai acontecer a qualquer momento, mas que no fim tudo vai terminar bem. Eu
tinha isso em mente, que no fim tudo terminaria bem... E quando as coisas
começam a dar terrivelmente errado, eu fico ansiosa, mas ainda acredito que
tudo vai dar certo. E então, quando acontece... Eu fiquei imóvel, paralisada,
como a própria Violet fica. Eu ainda li as próximas páginas esperando que algo
muito louco acontecesse e mudasse tudo. Mas não acontece. Os capítulos
seguintes são muito emocionais (não emocionantes, emocionais mesmo). O leitor é
carregado por toda aquela carga de emoções que Violet passa enquanto visita os
últimos pontos do mapa. Cada encontro com o que ainda é Theodore Finch. Cada
descoberta de que ele esteve ali é mágica de uma forma que não consigo
explicar.
Escrever sobre suicídio e doenças mentais não deve ser
fácil. Nem é fácil ler sobre eles. Por mais que tentemos entender o que Finch
sentia, nada fazia sentido, nem mesmo para ele. Cada vez que ele “testava” uma
nova forma de morrer, sentíamos com ele toda a angustia, dor, paz, o medo, tudo
que aquilo o trazia. A morte vista pelo olhar do outro, daquele que vive, é
ainda pior, porque o que fica é o vazio, a perda. Não temos a visão final de
Finch, como é sempre que alguém se vai. Mesmo sabendo como Finch se sentia até
certo ponto, o fato da autora não ter dado os últimos momentos dele é que fez
tudo tão real. Não podemos saber o que aquelas pessoas pensavam, as milhões de
hipóteses que podem explicar o que aconteceu sem nunca serem comprovadas. E a
evolução da perda e da dor, os caminhos que Violet segue em busca do que restou
é muito tocante. É definitivamente um livro para nos fazer pensar.
FIM DOS SPOILERS.
“Tenho raízes mas sou fluída. Venha, digo, venha.” (Por
Lugares Incríveis citando Virgínia Wolf)
“Tudo bem não termos recolhido lembranças nem tido tempo de
organizar tudo de um jeito que fizesse sentido pra outra pessoa. O que percebo
agora é que o que importa não é o que a gente leva, mas o que a gente deixa.”
(Por Lugares Incríveis)
Acho que é bem claro que recomendo esse livro. Mas esteja
preparado para todas as emoções que você vai sentir.
Se você já leu “Por Lugares Incríveis”, deixe sua opinião
nos comentários. Me diga se você também se sentiu como eu quando leu.
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